Lugar de esporte radical também é na escola


Nas décadas iniciais do século XX o esporte recebeu dois novos significados: instrumento para fortalecer a identidade nacional e meio de aquisição da saúde corporal. O sucesso nas competições internacionais passou a ser visto como reflexo do poderio econômico e os esforços exigidos para um bom desempenho foram atrelados à melhoria da aptidão física.
Nos anos mais recentes surgiram outros sentidos para o esporte: estratégia para combater os malefícios do sedentarismo ou do estresse da vida cotidiana; produto de consumo em larga escala; recurso para retirar crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social das ruas; meio de educação; e forma de ressocialização de infratores. Indícios dessas novas atribuições podem ser constatados na multiplicação de eventos esportivos, proliferação dos locais de prática, aparição de especialistas e, principalmente, o espaço ocupado nas mídias.
A questão é que a transformação do esporte em um negócio altamente rentável chamou a atenção do mercado e despertou o apetite das grandes corporações por maiores lucros. Além disso, se considerarmos a sua eficácia como forma de regular a população, torna-se fácil compreender as enormes cifras destinadas ao mundo esportivo. Ora, o atleta vitorioso acumula dividendos financeiros para seus patrocinadores, encarna o herói e serve de referência às novas gerações. Transforma-se em mito, garoto propaganda e cidadão exemplar.
Diante disso, não é casualidade que o esporte tenha assumido uma função narcísica. Enquanto à época da sua criação as qualidades morais requeridas dos seus praticantes eram exaltadas, nos tempos que correm a visibilidade e o enriquecimento reforçaram o individualismo competitivo. Muitos atletas, transformados em objetos de contemplação pelas mídias, parecem querer distanciar-se de tudo o que extrapole as arenas de disputa. Costumam, até mesmo, delegar as obrigações cotidianas a terceiros.
Não há dúvidas que a complexidade do sistema esportivo acaba por gerar o afastamento do esportista das atividades intermediárias, transformando-o em mero personagem. São bem poucos os que conhecem a própria modalidade a fundo. O atleta é apenas um adereço descartável de uma maquinaria complexa cuja finalidade e funcionamento não controla. O mecanismo é tão sofisticado e as engrenagens são tantas que ele acaba por submeter-se docilmente a regras que extrapolam a prática esportiva.
As penalidades para quem ousa agir por conta própria e exigir os mesmos direitos que os demais cidadãos possuem são rigorosas o suficiente para silenciar a maioria dos esportistas. Mais rígidas que as regras de qualquer modalidade, são as restrições impostas àqueles que não se deixam subjugar.
Felizmente, não são todos que se submetem aos ditames do mercado ou aos preceitos do “vencer a qualquer custo”. Os esportes radicais, de aventura ou de ação despontam como lócus de resistência e inventividade. Em sua maioria, os praticantes seguem princípios e valores heterodoxos. Alguns são avessos a torneios, competições e premiações, preferindo grupos heterogêneos às equipes orquestradas. Ademais, reconstroem as regras sempre que necessário e não veem com bons olhos as investidas de institucionalização e normatização. São alternativos, repudiam a subordinação e subverter a ordem.
São tantas as modalidades que seria impossível descrevê-las neste espaço: arvorismo, bungeejumping, kitesurf, lacrosse, paintball, parkour, acrobacia aérea, voo livre, snowboard, BMX, skate, balonismo, corrida de aventura, rapel, rafting e paraquedismo, entre tantas outras. Em comum, se aproximam do risco e buscam a vertigem, qualidades daquilo que é lúdico, como diria o sociólogo francês Roger Caillois. Talvez seja essa a razão do crescimento de adeptos e a sua transformação em atividades de lazer, o que por si só significa romper com a formalização que impulsiona as práticas convencionais. Para ficar em apenas uma característica que distingue seus praticantes dos demais atletas, nos esportes radicais a preocupação com benefícios que possam advir é posta em segundo plano. O objetivo é o prazer. Basta verificar que em muitos casos a prática acontece durante uma viagem ou passeio, nos finais de semana ou nas férias, ou seja, é pura diversão.

Referências:
http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/fundamental-2/lugar-de-esporte-radical-e-na-escola

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